Avaliação 2 (25%) História da Filosofia Moderna I

Com base nas leituras das Meditações metafísicas, das Regras para a direção do espírito e dos trechos do Discurso do Método trabalhados em aula, comente a passagem abaixo:

“Mas bem vejo o que pretendeis dizer, a saber, que, havendo eu escrito apenas seis Meditações sobre a Filosofia primeira, os leitores se espantarão de que, nas duas primeiras, não conclua nada mais senão o que acabo de declarar nesse instante, e pôr isso hão de achá-las demasiado estéreis e indignas de terem sido trazidas à luz. A isso respondo somente não temer que aqueles que houverem lido com discernimento o restante do que escrevi tenham ocasião de suspeitar que eu haja malogrado no trato da matéria; mas que me pareceu muito razoável que as coisas que exigem particular atenção, e devem ser consideradas separadamente das outras, fossem postas em Meditações separadas.
Eis por que, não conhecendo nada mais útil para alcançar um firme e seguro conhecimento das coisas do que acostumar-se, antes de estabelecer algo, a duvidar de tudo e principalmente das coisas corporais, embora houvesse visto há longo tempo muitos livros escritos pelos céticos e acadêmicos sobre a matéria e não fosse sem certo fastio que ruminava um alimento tão comum, não pude todavia dispensar-me de lhe conceder uma Meditação inteira; e gostaria que os leitores empregassem não apenas o pouco tempo necessário para lê-la, mas alguns meses, ou ao menos algumas semanas, em considerar as coisas de que ela trata, antes de passar além; pois assim não duvido que aufiram lucro bem melhor da leitura do restante.
Ademais, por não termos tido até agora quaisquer ideias das coisas pertencentes ao espírito que não fossem muito confusas e misturadas às ideias das coisas sensíveis, e por ter sido esta a primeira e principal razão pela qual não se pôde entender assaz claramente nenhuma das coisas que se diziam de Deus e da alma, pensei que não faria pouco se mostrasse como é preciso distinguir as propriedades ou qualidades do espírito das propriedades ou qualidades do corpo, e como é preciso reconhecê-las; pois, embora muitos já tenham dito que, para bem entender as coisas imateriais ou metafísicas, é necessário distanciar o nosso espírito dos sentidos, não obstante ninguém, que eu saiba, mostrou ainda por que meio é possível realizá-lo. Ora, o verdadeiro, e a meu juízo, o único meio para isso está contido na minha Meditação Segunda; mas é de tal ordem que não basta tê-lo encarado uma vez, cumpre examiná-lo amiúde e considerá-lo durante muito tempo, a fim de que o hábito de confundir as coisas intelectuais com as corporais, que se enraizou em nós no curso de toda a nossa vida, possa ser expungido por um hábito contrário, o de distingui-las, adquirido pelo exercício de alguns dias. E isso me pareceu uma causa bastante justa para que não versasse outra matéria na Meditação Segunda.”
(Descartes, Respostas às segundas objeções)


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